#2 A bolha do parto humanizado

Olá queridos ouvintes,

Neste episódio, vimos a necessidade de refletir sobre o conceito de “parto humanizado” e explicamos brevemente sobre os principais procedimentos realizados nos atendimentos, sempre baseadas nos documentos oficiais que se sustentam nas evidências científicas.

A ideia de que a humanização é algo unicamente ideológico, espiritual e naturalista afasta muitas pessoas que querem ter uma boa assistência mas terminam sendo engolidas pelos protocolos de atendimento genéricos, muitas vezes desatualizados e que fogem das boas práticas de assistência, gerando experiências desagradáveis, negativamente marcantes, quando não traumatizantes.

Por isso reforçamos sempre que a conscientização dos pacientes buscando cada vez mais o respeito ao protagonismo da mulher e profissionais de saúde que entendam o parto como algo além do evento fisiológico elevando-o para um evento humano e sempre seguindo as evidencias científicas em suas condutas.

Na sequência apresentamos os documentos e referências no qual pautamos as informações desse episódio:

1 – Vídeo em que se explica como funcionam as contrações, fora de trabalho de parto e em trabalho de parto ativo.
https://www.youtube.com/watch?v=4OXXJd5trA0

2 – “Práticas baseadas em evidências científicas
Várias evidências científicas têm demonstrado que muitas práticas correntes na assistência obstétrica e neonatal são aplicadas sem a devida validação por estudos científicos bem desenhados. Também a introdução de novas práticas e tecnologias sofisticadas na assistência, com a esperança de se obter resultados melhores, não foi acompanhada dos resultados esperados. O uso rotineiro de práticas já consideradas obsoletas pelas evidências atuais deve ser evitado (ex.: enema e episiotomia de rotina etc.). Apenas aquelas práticas validadas pela melhor evidência científica disponível devem ser adotadas, aliando a arte com a ciência, visando a um nascimento seguro para a mãe e a criança, com o mínimo de intervenções necessárias.”
Ministério da Saúde – Cadernos HumanizaSUS – Volume 4 – Humanização do Parto e do Nascimento, página 31. http://www.redehumanizasus.net/sites/default/files/caderno_humanizasus_v4_humanizacao_parto.pdf

3 – Indicação de taxa de cesarianas
“A taxa de cesariana tem sido utilizada como indicador de avaliação do modelo de atenção ao parto e, segundo padrão normativo da Organização Mundial da Saúde (OMS), não deve ultrapassar 15%. A alta prevalência de cesáreas no Brasil não parece estar relacionada a mudanças no risco obstétrico e sim a fatores socioeconômicos e culturais, destacando-se o controverso fenômeno da “cultura da cesariana”. A preferência das mulheres pelo parto cesáreo parece moldada pela conduta intervencionista do médico e pela crença de que a qualidade do atendimento obstétrico está fortemente associada à tecnologia dura utilizada no parto operatório (LEAL et al., 2009).”
Ministério da Saúde – Cadernos HumanizaSUS – Volume 4 – Humanização do Parto e do Nascimento, página 23.http://www.redehumanizasus.net/sites/default/files/caderno_humanizasus_v4_humanizacao_parto.pdf

4 – “O modelo social passa a encarar a saúde como uma solução e não mais como um problema. Essa concepção orienta para a atenção integral à pessoa e, não apenas à doença, visando eliminá-la ou evitá-la, mas também para tirar proveito dela (WAGNER, 1994). A concepção do nascimento como um evento biopsicossocial é básica para o modelo social. Nesse sentido, o nascimento como evento biológico – anatômico, psicológico e bioquímico – está integrado a componentes mentais e espirituais, ou seja, é por natureza feminino, intuitivo, sexual e espiritual. Como evento social, tem profundas implicações para a sociedade como um todo, devido à sua visão da reprodução, da posição da mulher, das relações familiares, da socialização e da construção da personalidade. Nesse contexto, crenças religiosas exercem fundamental influência no modo como as pessoas veem esse processo. Quanto ao uso de tecnologias duras, o modelo social busca o seu controle, ou seja, o uso adequado. Estimula práticas simples, baratas, que possam ser utilizadas em nível ambulatorial ou em casa, e que sejam preferencialmente não invasivas, social e psicologicamente justas para a mulher e sua família.”
Ministério da Saúde – Cadernos HumanizaSUS – Volume 4 – Humanização do Parto e do Nascimento, página 25 e 26. http://www.redehumanizasus.net/sites/default/files/caderno_humanizasus_v4_humanizacao_parto.pdf

5 – “O local onde a mulher é cuidada não pode ser um ambiente hostil, com rotinas rígidas e imutáveis, onde ela não possa expressar livremente seus sentimentos e suas necessidades. Deve receber cuidados individualizados e flexíveis de acordo com suas demandas. É necessário que se sinta segura e protegida por todos aqueles que a cercam. Tanto na assistência pré-natal como na assistência ao nascimento, a presença do seu companheiro ou outro membro da família deve ser encorajada.A separação mãe-filho deve ser evitada desde o nascimento até a alta, e quando for inevitável, diante da necessidade de internação do recém-nascido em Unidade Neonatal, seus efeitos devem ser minimizados a partir de uma boa comunicação entre a equipe e a mãe, e da criação de possibilidades para que o encontro seja o mais breve possível. Tanto os fatores científicos que trazem segurança, como os fatores humanos que trazem alegria e felicidade devem ser considerados para assegurar uma experiência bem-sucedida e gratificante para todos os envolvidos.”
Ministério da Saúde – Cadernos HumanizaSUS – Volume 4 – Humanização do Parto e do Nascimento, página 28. http://www.redehumanizasus.net/sites/default/files/caderno_humanizasus_v4_humanizacao_parto.pdf

6 – “Quando o parto não ocorre até a 41º semana, é necessário encaminhar a gestante para a avaliação do bem-estar fetal, incluindo avaliação do índice do líquido amniótico e monitoramento cardíaco fetal. Estudos clínicos randomizados demonstram que a conduta de induzir o trabalho de parto em todas as gestantes com 41 semanas de gravidez é preferível à avaliação seriada do bem-estar fetal, pois se observou menor risco de morte neonatal e perinatal e menor chance de cesariana no grupo submetido à indução do parto com 41 semanas.”
Ministério da Saúde – Caderno de Atenção Básica, página 33
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cadernos_atencao_basica_32_prenatal.pdf

7 – Riscos da cesariana.
Os riscos da ação são enumerados pela coordenadora da Saúde da Mulher do Ministério da Saúde, Esther Vilela.”Infecção, o risco de hemorragia aumentado, o risco do ato anestésico que pode dar aí morte pela anestesia ou morbidade pela anestesia, e os riscos em longo prazo de aderência, de acretismo placentário, que é a placenta grudar no útero e também placenta prévia e de endometriose, que são riscos inerentes à cesárea, principalmente, cesáreas de repetição, risco aumentado para o próximo parto e problemas com a fertilidade.”
(Portal Brasil Publicado: 29/01/2015)
http://www.brasil.gov.br/noticias/saude/2015/03/conheca-os-riscos-de-uma-cesariana-desnecessaria

8 – “A duração do trabalho de parto ativo pode variar:
– nas primíparas dura em média 8 horas e é pouco provável que dure mais que 18 horas;
– nas multíparas dura em média 5 horas e é pouco provável que dure mais que 12 horas.”
Ministério da Saúde – Diretrizes Nacionais de Assistência ao Parto Normal, página 23. http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_nacionais_assistencia_parto_normal.pdf

9 – Episiotomia
“No Brasil, acredita-se que quase a totalidade das nulíparas seja submetida a uma episiotomia. Em uma metanálise de estudos randomizados controlados envolvendo 5.541 mulheres, o uso restritivo da episiotomia, comparado com o uso rotineiro, esteve associado a menor incidência de trauma perineal posterior, menor necessidade de sutura e menos complicações de cicatrização. No grupo de uso restritivo houve maior incidência de trauma anterior. Não houve diferenças nas medidas de trauma vaginal ou perineal grave, dispareunia, incontinência urinária, medidas de dor, baixos índices de Apgar e admissão na unidade de cuidados intensivos neonatais. Nessa mesma revisão, um dos autores faz uma estimativa de economia, para o setor público, de cerca de 15 a 30 milhões de dólares com o uso restritivo da episiotomia (CARROlI; MIGNINI, 2012). Baseado em uma filosofia de cuidados que deve enfatizar o uso de práticas baseadas em evidências científicas e custo-efetivas, a episiotomia de rotina deve ser abandonada da prática obstétrica atual. O seu uso pode ser considerado, mas não mandatório, em situações onde os benefícios possam ser maiores que os riscos tais como: distócia de ombro, parto pélvico, fórceps ou extrações a vácuo, variedades de posições posteriores ou em situações onde seja óbvio que a falha da sua realização possa resultar em trauma perineal maior.”
Ministério da Saúde – Cadernos HumanizaSUS – Volume 4 – Humanização do Parto e do Nascimento, página 40. http://www.redehumanizasus.net/sites/default/files/caderno_humanizasus_v4_humanizacao_parto.pdf

10 – Rotura de bolsa:
“Embora nas gestações a termo, a rotura das membranas ocorra na maioria dos casos durante o trabalho de parto, ela pode ocorrer até vários dias antes do início do mesmo (de 12 a 20%). Ainda não existem evidências claras sobre qual a melhor conduta nesses casos e várias alternativas têm sido utilizadas no manejo da rotura prematura de membranas em gestações de termo:
• indução imediata do trabalho de parto;
• indução após 6-12 horas; e
• conduta expectante por até 48 horas, com observação da gestante, seguida de indução se o trabalho de parto não se inicia espontaneamente. Detalhes sobre as condutas nos casos de amniorrexe prematura estão disponíveis no manual de Gestação de Alto Risco (MS, 2000). Qualquer que seja a conduta adotada, o toque vaginal deve ser evitado até que a gestante esteja em franco trabalho de parto, para minimizar os riscos de infecção ovular e puerperal.”
Parto, Aborto e Puerpério Assistência Humanizada à Mulher – Ministério da Saúde Ano 2001, página 40.
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cd04_13.pdf

11 – Posição para o parto
“Posições verticais no parto sempre foram utilizadas, ocorrendo uma drástica mudança a partir do momento em que o parto passou a ser assistido por médicos e, principalmente, no ambiente hospitalar. A posição de cócoras geralmente é a preferida pelas mulheres quando lhes oferecem a liberdade de escolha. Entretanto, argumenta-se que para a mulher ocidental, não acostumada a adotar tal posição em suas atividades cotidianas, isso poderia resultar em maior trauma perineal.Em metanálise envolvendo 22 estudos randomizados controlados, com 7.280 mulheres, o uso de qualquer posição vertical ou lateral comparado com a posição supina no segundo estágio do parto, esteve associado à redução da duração e do relato de dor grave nesse estágio e na taxa de episiotomia, pequena redução no número de partos assistidos instrumentalmente, e menos anormalidades nos padrões de frequência cardíaca fetal, embora tenha sido encontrado pequeno aumento na incidência de lacerações perineais de segundo grau e aumento no risco estimado de perda sanguínea maior que 500 ml.O uso de uma almofada para a posição de cócoras, comparada à posição de litotomia ou supina, esteve associado à redução considerável na duração do segundo estágio, menos partos assistidos, menor incidência de lacerações perineais de segundo grau e taxa de episiotomia e incidência de sangramento estimado maior que 500 ml foram similares (GUPTA; HOFMEYR; SHEHMAR, 2012). As evidências indicam que as mulheres devem ser encorajadas a adotarem a posição que acharem mais confortável durante o período da expulsão.”
Ministério da Saúde – Cadernos HumanizaSUS – Volume 4 – Humanização do Parto e do Nascimento, página 39
http://www.redehumanizasus.net/sites/default/files/caderno_humanizasus_v4_humanizacao_parto.pdf

12 – Ocitocina e sofrimento fetal.
“Sofrimento fetal e morte fetal: Administração de ocitocina em doses excessivas resulta em uma superestimulação uterina, podendo causar sofrimento, asfixia e morte fetal, ou conduzir a hipertonia, contrações tetânicas ou ruptura uterina. É importante monitorar cuidadosamente a frequência cardíaca fetal e a motilidade uterina (frequência, intensidade e duração das contrações) a fim de poder ajustar a dose à resposta individual.”
MODELO DE BULA PROFISSIONAL DE SAÚDE RDC 47/09
http://www.anvisa.gov.br/datavisa/fila_bula/frmVisualizarBula.asp?pNuTransacao=23373912016&pIdAnexo=3921829

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